sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O subconsciente de Nolan


Christopher Nolan ganhou o reconhecimento do grande público após deixar ainda mais sombrio o Cavaleiro das Trevas em sua nova trilogia do Batman (Batman Begins, O Cavaleiro das Trevas e O Cavaleiro das Trevas Ressurge). Mas foi o aclamado A Origem que intrigou e pôs para pensar boa parte dos aficionados por um filme mais “cabeça”. Mal sabiam eles: tudo aquilo que Nolan pôs na tela em quase três horas de filme já havia sido rascunhado – muito bem, aliás – há mais de 10 anos, em um curta-metragem de menos de três minutos.

Doodlebug foi escrito e dirigido por Chris Nolan (como é creditado) em 1997, quando ainda cursava literatura inglesa na University College London. O curta de suspense psicológico conta a história de um homem que persegue, dentro de um quatro, um “besouro”. Mais de que um mero experimento universitário, Doodlebug traz em si boa parte dos elementos que encantariam e intrigariam a crítica e o público nos blockbusters posteriormente realizados pelo cineasta.

Nos momentos finais de Doodlebug, percebemos que o “besouro” é, na verdade, uma miniatura do personagem que, ao tentar matá-lo, torna-se também alvo de uma versão ainda mais gigantesta dele mesmo, um eu-lírico/algoz ainda maior, cujo rosto acaba por tomar toda a tela nos segundos finais. Na verdade, o que se mostra neste curta é exatamente o que seria retratado em A Origem: as camadas da mente. A diferença é meramente orçamentária. Se naquele longa, Leonardo DiCaprio vive aventuras dentro do próprio subconsciente, neste curta não é diferente: Jeremy Theobald é também vítima/algoz de sua própria (in)consciência. Quase que explicitamente, Sigmund Freud está em ambos os filmes.

Nos Batmans, o pensador austríaco também está lá – assim como os rastros de Doodlebug, que permeará toda a filmografia de Nolan até hoje. Mais discretamente, mas sempre lá. Em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, as tentativas de fuga do protagonista do calabouço – que, na verdade, é uma prisão psicológica e jamais física – reflete a busca do protagonista de Doodlebug pelo “besouro”. Sua obsessão com o objeto almejado – no curta, o “besouro”; no longa, a liberdade – ofusca, em meio a escuridão da sua mente, aquilo que está bem diante dele: que seu inimigo não é aquilo que parece ser imediatamente, mas é exatamente aquilo que, segundo Freud, é nosso inimigo mediato, final: nós mesmos, nossa própria inconsciência, nossa caminhada para a autodestruição.

Um comentário:

  1. Interessante ver onde as ideias do Nolan têm suas raízes... Boa análise e conceito ótimo para o blog! ;)

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